O Caso Sean Scott: Uma Alerta Sobre a Falta de Regulamentação em Procedimentos Estéticos

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A crescente popularidade dos procedimentos estéticos no Reino Unido trouxe à tona debates urgentes sobre a falta de regulamentação do setor. O caso de Andrea, uma mulher de 60 anos que teve sua vida transformada de maneira traumática após um preenchimento facial malsucedido, expõe lacunas críticas na legislação e no controle das práticas estéticas.

A Clínica Reshape U e Sean Scott

Andrea procurou a clínica Reshape U, em Hull, na Inglaterra, em dezembro de 2021, atraída por supostos prêmios e pela reputação apresentada no site da empresa. Lá, foi atendida por Sean Scott, que se apresentava como "Dr. Sean Scott". Apesar do título exibido em sua clínica e redes sociais, investigações da BBC revelaram que Scott não possui formação médica. O título "doutor" era resultado de um diploma honorário comprado online, sem qualquer relação com a prática de Medicina.

Scott realizava uma série de procedimentos estéticos, incluindo preenchimentos faciais e corporais, além de prescrever antibióticos e Botox, ações que, segundo o Conselho Federal de Medicina britânico, são restritas a profissionais médicos qualificados. Ele alega que não prescreveu medicamentos diretamente, mas utilizou profissionais registrados para obtê-los.

A Transformação Traumática de Andrea

Inicialmente, Andrea procurou a clínica para preenchimentos mamários, mas foi encorajada a realizar também preenchimentos faciais. Scott afirmou que poderia "harmonizar" seu rosto, aplicando ácido hialurônico nas bochechas, queixo e maxilar. No entanto, os resultados foram devastadores. Andrea começou a apresentar inchaços, marcas escuras e infecções que resultaram em cicatrizes permanentes.

Apesar de retornar à clínica mais de 30 vezes para tratamentos e correções, sua situação apenas piorou. Em outubro de 2022, Andrea precisou ser hospitalizada, incapaz de abrir os olhos devido à gravidade da reação.

Hoje, dois anos após os procedimentos, Andrea sofre de transtorno de estresse pós-traumático, dores constantes no rosto e um impacto psicológico profundo. "Eu vejo uma gárgula... algo horrível, repulsivo", desabafou à BBC.

A Falta de Regulamentação no Setor

O caso de Andrea não é isolado. A BBC revelou outras três reclamações contra Scott, além de um aumento significativo de denúncias sobre práticas inadequadas no setor estético. Em 2024, o Conselho Municipal de Hull encontrou problemas na clínica de Scott, mas não tomou medidas formais devido à disposição do estabelecimento em implementar melhorias.

Desde 2013, especialistas alertam para os perigos da ausência de regulamentação em procedimentos estéticos não cirúrgicos. Uma revisão conduzida naquele ano classificou os preenchimentos dérmicos como "uma crise esperando para acontecer". Mesmo após a introdução de uma lei em 2022 que previa o licenciamento obrigatório para esses procedimentos, a legislação ainda não foi implementada.

O Crescimento das Reclamações e as Perspectivas de Regulamentação

O Conselho Conjunto de Profissionais de Estética (JCCP) registrou um aumento explosivo de reclamações locais, de duas em 2023 para 65 no final de 2024. O médico Paul Charlson alerta que, sem uma regulamentação eficaz, o Reino Unido enfrentará "mais mortes e desfigurações". Em 2024, o país registrou a primeira morte relacionada a procedimentos estéticos — uma mulher que realizava um "Brazilian Butt Lift" (BBL).

Embora o governo britânico tenha reconhecido o problema e afirmado estar explorando "opções para regulamentação adicional", especialistas insistem na urgência de medidas concretas.

Lições e Cuidados para o Futuro

O caso de Andrea é um lembrete contundente sobre os riscos de confiar em profissionais inadequadamente qualificados. Especialistas recomendam que qualquer pessoa interessada em procedimentos estéticos procure profissionais registrados, segurados e com boa reputação.

Enquanto Andrea enfrenta as cicatrizes físicas e emocionais de sua experiência, sua história serve como um alerta poderoso para a necessidade de regulamentação e supervisão no setor estético. "Eu nunca faria isso novamente, e nunca aconselharia ninguém a fazer", concluiu ela.

Artigo publicado originalmente na BBC News

Adaptação: Luiz Sérgio Castro

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