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Da Redação com base em artigo de Livia D’Ambrosio

Durante muito tempo, acreditamos que o envelhecimento acontecia de forma gradual e contínua — um lento declínio ao longo da vida. No entanto, a ciência vem revelando um novo panorama surpreendente: o envelhecimento ocorre de forma não linear, com mudanças bruscas em três momentos cruciais da vida. A primeira dessas transformações pode começar muito antes do que imaginamos: aos 34 anos.

 Um novo olhar sobre o envelhecimento

A primeira pista de que o envelhecimento não é progressivo veio de estudos com organismos como a mosca-da-fruta (Drosophila), vermes nematoides e peixes-zebra. Nessas espécies, os cientistas perceberam que o processo era bifásico: lento durante a maior parte da vida adulta e, de repente, acelerado.

Esses padrões também foram identificados em seres humanos, especialmente a partir de análises moleculares e bioquímicas. Por exemplo, aos 78 anos, observou-se uma queda drástica na capacidade de produzir novas células sanguíneas, o que aumenta o risco de doenças como anemia, disfunção erétil e leucemia.

 As três idades do envelhecimento: 34, 60 e 78 anos

Pesquisas recentes da Universidade de Stanford, lideradas pelo cientista Michael Snyder, revelaram que mudanças abruptas ocorrem no perfil das proteínas presentes no plasma sanguíneo em três idades específicas: 34, 60 e 78 anos. Essas alterações não seguem uma progressão contínua, mas sim acontecem em pontos de inflexão — momentos em que o corpo passa de um estado de equilíbrio para outro.

Esses picos coincidem com fases em que muitos começam a notar mudanças significativas no organismo, como:

 Perda de massa muscular;

 Piora da qualidade da pele;

 Dificuldade de metabolizar o álcool;

 Alterações hormonais e imunológicas.

A transição dos 34 anos pode passar despercebida por muitos, mas ela já dá início a um processo de aceleração do envelhecimento celular. Depois dos 60, o impacto se torna mais evidente — e depois dos 78, a capacidade regenerativa do corpo se compromete severamente.

 Impactos na saúde e na longevidade

Essas descobertas ajudam a entender por que doenças relacionadas à idade, como problemas cardiovasculares, se intensificam em determinados períodos da vida. Por exemplo:

 O risco de doenças cardíacas salta de 16% para 40% entre os 40 e 59 anos.

 Aos 60, esse risco sobe para impressionantes 75%.

 A taxa de mortalidade, por sua vez, acelera aos 17, 38 e 60 anos, com os dois últimos picos coincidindo com os momentos de inflexão detectados nos estudos.

Essas correlações mostram que as alterações moleculares não são apenas curiosidades científicas, mas têm efeitos reais e mensuráveis na saúde e na longevidade.

 Podemos adiar o envelhecimento?

Se não é possível impedir o envelhecimento, será que podemos adiá-lo?

A resposta é: sim, em parte. O cientista Michael Snyder acredita que, especialmente por volta dos 40 anos, muitos dos efeitos negativos associados à idade são agravados por mudanças no estilo de vida, como:

 Redução da prática de atividades físicas;

 Dieta desequilibrada;

 Aumento do sedentarismo.

Ou seja, a forma como vivemos influencia diretamente como e quando o envelhecimento se manifesta. Adotar hábitos saudáveis — boa alimentação, sono adequado, exercícios regulares e controle do estresse — pode postergar os pontos de inflexão e preservar por mais tempo a vitalidade celular.

 O futuro do antienvelhecimento

Pesquisas estão em andamento para desenvolver tratamentos capazes de retardar ou interromper essas transições críticas. A pesquisadora Maja Olecka, do Instituto Leibniz sobre Envelhecimento, destaca que o desafio é encontrar estratégias universais que atuem nesses pontos de virada.

Mas até lá, a principal recomendação é começar a se cuidar antes que o processo se intensifique — especialmente na fase que começa aos 34 anos, quando muitas pessoas ainda se consideram jovens demais para pensar em envelhecimento.

O envelhecimento não é uma linha reta — é uma curva com três grandes mudanças. Saber disso nos permite prever, entender e até interferir nesse processo com mais inteligência. E, embora não possamos controlar o tempo, podemos controlar o que fazemos com ele.

Comece agora. Seu corpo no futuro agradecerá.

Fontes:

 Artigo de Livia D'Ambrosio (Super Interessante / Abril)

 Estudo da Universidade de Stanford (Michael Snyder)

 Instituto Leibniz sobre Envelhecimento (Maja Olecka)