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Da Redação Com base em reportagem do portal Terra, com informações do Estadão Verifica e da pesquisa de Fatma Sumer e Sevgi Subasi

Nos últimos dias, circulou nas redes sociais a afirmação de que a vacina contra a COVID-19 da Pfizer causaria “danos irreversíveis” nos olhos de adultos jovens saudáveis, destruindo 8,4% das células da córnea. O conteúdo teve grande repercussão e gerou preocupações. No entanto, uma investigação feita pelo Estadão Verifica mostrou que essas alegações são enganosas e não refletem o real conteúdo do estudo científico citado.

O Que Diz o Estudo?

O estudo original, intitulado Evaluation of the Effects of mRNA-COVID 19 Vaccines on Corneal Endothelium ("Avaliação dos efeitos das vacinas de mRNA contra a COVID-19 no endotélio da córnea"), foi conduzido pelas pesquisadoras turcas Fatma Sumer e Sevgi Subasi, publicado em julho de 2025 na revista Ophthalmic Epidemiology. A pesquisa analisou 128 olhos de 64 pessoas, comparando exames realizados antes e cerca de dois meses e meio após a aplicação de duas doses da vacina da Pfizer-BioNTech.

A análise observou uma redução média de 8,4% na contagem de células endoteliais da córnea, responsáveis pela transparência da região ocular. Porém, em nenhum momento as autoras afirmam que a vacina causou essa perda celular, tampouco que ela resulta em danos irreversíveis.

Especialistas Contestam Causalidade

De acordo com Daniel Vitor de Vasconcelos Santos, chefe do Departamento de Oftalmologia da UFMG e membro da International Ocular Inflammation Society, não há qualquer evidência de causalidade entre a vacina e a redução observada. Ele destaca que o estudo é isolado e não possui grupo controle, o que compromete sua capacidade de indicar uma relação direta entre a vacina e a perda celular.

Além disso, Santos ressalta que as próprias autoras do estudo já haviam publicado anteriormente uma pesquisa que mostrou redução semelhante de células endoteliais em pessoas que tiveram COVID-19 — novamente, sem afirmar uma ligação causal.

Perda Celular Sem Impacto Clínico

A perda de células endoteliais da córnea ocorre naturalmente com o envelhecimento — entre 0,6% a 1% ao ano. Embora a redução de 8,4% observada no estudo seja superior à média anual, não houve perda de visão nem sintomas visuais nos participantes. O Ministério da Saúde esclareceu que pequenas alterações no endotélio não costumam ter repercussão clínica em pessoas saudáveis.

Segundo o professor Daniel Santos, a alteração poderia ter relevância apenas para pacientes idosos, transplantados de córnea ou com doenças oculares pré-existentes, e mesmo nesses casos, seriam necessários estudos adicionais para verificar a hipótese.

O Que Dizem as Autoridades de Saúde?

A Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) informou que o estudo não permite estabelecer uma relação direta entre a vacina e alterações na córnea. O Ministério da Saúde reforçou que não há alertas de segurança sobre danos oculares causados pelas vacinas de mRNA, como a da Pfizer, e que todas as vacinas autorizadas no Brasil passaram por rigorosos testes de segurança pela Anvisa.

A Pfizer, por sua vez, afirmou que sua vacina contra a COVID-19 tem reconhecimento global de segurança por autoridades como a FDA (EUA), EMA (Europa) e Anvisa (Brasil). A empresa disponibiliza um portal de farmacovigilância aberto ao público para notificação de eventos adversos e declarou que não há registros de alerta de segurança ocular associado à vacina.

Conclusão: Informação Enganosa e Fora de Contexto

As alegações nas redes sociais que associam diretamente a vacina da Pfizer à destruição de células da córnea são enganosas e cientificamente infundadas. O estudo citado observou uma redução celular após a vacinação, mas não conclui que a vacina é a causa, nem aponta para danos permanentes ou perda de visão.

A professora Fernanda Penido Matozinhos, da UFMG, especialista em estudos sobre vacinação, lembra que os efeitos adversos conhecidos das vacinas são raros, leves e autolimitados, e não há evidência científica consolidada sobre danos estruturais na córnea provocados pela vacina.

O alerta dos especialistas é claro: não se deve tirar conclusões precipitadas de um estudo isolado e sem grupo controle. Mais pesquisas, com metodologia robusta, são necessárias para aprofundar a análise.


Fontes consultadas:

Estadão Verifica

Terra.com.brLink para o artigo original

Estudo: Evaluation of the Effects of mRNA-COVID 19 Vaccines on Corneal Endothelium

Ministério da Saúde

Sociedade Brasileira de Oftalmologia

Pfizer

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Autor do artigo: Luiz Castro

Data da publicação: 2 de agosto de 2025