Por André Biernath
O câncer colorretal, que levou à morte da
cantora e apresentadora Preta Gil aos 50 anos, tem alarmado especialistas em
todo o mundo por uma razão inquietante: o crescimento expressivo de casos entre
pessoas com menos de 50 anos.
Descrito por médicos como “assustador” e “um
problema global”, esse tipo de tumor — que atinge o cólon e o reto — antes era
mais comum entre os idosos. Agora, ele se manifesta cada vez mais precocemente,
colocando em risco uma população jovem, ativa e produtiva.
Crescimento
Preocupante em Jovens
Segundo dados da Sociedade Americana de Câncer,
cerca de 20% dos casos de câncer colorretal nos EUA em 2019 ocorreram em
pessoas com menos de 55 anos — o dobro do registrado em 1995. O mais alarmante
é que os diagnósticos em estágios avançados crescem cerca de 3% ao ano nessa
faixa etária.
No Brasil, análises do Instituto Nacional de
Câncer (INCA) mostram que os casos também aumentam entre os mais jovens, embora
a maior parte ainda se concentre em pessoas acima dos 50 anos.
Causas
Ainda Não Completamente Conhecidas
As causas para esse aumento precoce ainda não
são totalmente compreendidas. No entanto, especialistas levantam algumas
hipóteses:
Alimentação
ultraprocessada e pobre em fibras;
Obesidade
e sedentarismo, que crescem globalmente;
Uso
excessivo de antibióticos, que pode alterar a flora intestinal;
Genética
e predisposição familiar.
O oncologista Samuel Aguiar Jr., do A C Camargo
Cancer Center, aponta: “Já virou rotina ver pacientes de 35 ou 40 anos com
diagnóstico de câncer colorretal. É uma realidade cada vez mais comum.”
Diagnóstico
Precoce: A Chave para a Cura
Nos Estados Unidos, o rastreamento preventivo
passou a ser recomendado a partir dos 45 anos. No Brasil, ainda não há um
programa nacional de rastreamento como há para câncer de mama ou colo do útero.
No entanto, o INCA estuda implementar uma política pública para mudar isso.
Os exames mais usados atualmente são:
Sangue
oculto nas fezes: simples, barato e anual;
Colonoscopia:
exame mais completo, mas de acesso mais restrito.
A proposta ideal seria usar o sangue oculto
como triagem em todos com mais de 45 anos. Apenas os casos com alteração seriam
encaminhados à colonoscopia, otimizando recursos e ampliando o alcance da
prevenção.
Fique
Atento aos Sintomas
Indivíduos, independentemente da idade, devem
procurar ajuda médica se apresentarem:
Sangue
nas fezes;
Mudanças
no ritmo intestinal;
Cólica
abdominal persistente;
Perda de
peso sem explicação;
Cansaço
extremo.
Esses sinais podem ser confundidos com
problemas menores, mas ignorá-los pode atrasar o diagnóstico — e isso custa
vidas.
Avanços
Trazem Esperança
Apesar da preocupação com o crescimento entre
os jovens, há boas notícias: os avanços em cirurgias, quimioterapias e
imunoterapias melhoraram significativamente o prognóstico.
Hoje, quando diagnosticado precocemente, o
câncer colorretal tem taxas de cura superiores a 95%. Mesmo em casos avançados,
a expectativa de vida aumentou de forma impressionante.
A história de Preta Gil trouxe à tona uma
realidade urgente: o câncer colorretal não é mais uma doença apenas dos idosos.
A mudança nos padrões de vida, alimentação e cuidados com a saúde cobra um
preço cada vez mais cedo.
É hora de revermos nossos hábitos, exigirmos
políticas públicas de rastreamento eficaz e, principalmente, ouvirmos os sinais
do nosso corpo. A prevenção é, hoje, a arma mais poderosa contra esse inimigo
silencioso — que pode ser detectado e combatido antes de causar danos
irreversíveis.
Fonte: Artigo baseado na reportagem de
André Biernath para a BBC News Brasil
Com apoio de dados do INCA, Sociedade
Americana de Câncer e entrevistas com especialistas em oncologia no Brasil.
Adaptação e otimização: Luiz Sérgio
Castro
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