Da Redação
Nos últimos anos, o Brasil vem enfrentando uma
preocupante escalada no uso indevido de hormônios com fins estéticos e de
performance física. Estimulada por modismos nas redes sociais, promessas de
resultados rápidos e uma cultura que valoriza excessivamente o corpo ideal,
essa prática tem colocado em risco a saúde de milhares de pessoas em todo o
país.
Hormônios
usados de forma abusiva
Entre os principais compostos utilizados de
forma indiscriminada estão os esteroides anabolizantes (EA) e o hormônio do
crescimento (GH), além de outras substâncias hormonais que deveriam ser de uso
estritamente médico. Esses produtos são, muitas vezes, divulgados e prescritos
em academias, clínicas estéticas ou perfis digitais como soluções milagrosas
para:
Ganho
rápido de massa muscular (hipertrofia)
Definição corporal
Perda
acelerada de gordura
Aumento
da disposição física e sexual
Suposta
promoção de longevidade e bem-estar
No entanto, essas promessas ignoram os riscos
reais e potencialmente fatais associados ao uso indiscriminado dessas
substâncias.
O
perigo do uso sem indicação médica
A utilização de hormônios anabolizantes sem uma
indicação clínica específica, especialmente na ausência de deficiência
comprovada por exames laboratoriais, é uma violação dos princípios da medicina
segura e ética. Pior ainda, muitas vezes, esses produtos são adquiridos no
mercado paralelo, sem controle de qualidade, aumentando exponencialmente os
riscos.
Diferente do que alguns influenciadores ou
profissionais sem habilitação médica afirmam, não existe dose segura nem
acompanhamento que elimine completamente os perigos associados ao uso dessas
substâncias fora do contexto clínico.
Efeitos
colaterais graves e imprevisíveis
Os efeitos adversos do uso de esteroides e
hormônios para fins não terapêuticos podem ser amplos, graves e, em muitos
casos, irreversíveis:
Comprometimento
do fígado e rins
Aumento
do risco cardiovascular (infarto, hipertensão, AVC)
Alterações
hormonais permanentes (atrofia testicular, infertilidade, ginecomastia nos
homens)
Distúrbios
psiquiátricos (ansiedade, depressão, agressividade, síndrome de abstinência)
Problemas
dermatológicos (acne severa, queda de cabelo)
Maior
risco de câncer, especialmente hepático e prostático
Em mulheres, os efeitos podem incluir virilização,
alteração da voz, crescimento de pelos em excesso, distúrbios menstruais e
infertilidade.
Um problema de saúde coletiva
O uso indiscriminado de hormônios vai além de
uma escolha individual. Trata-se de um problema de saúde pública. Os danos
gerados exigem atendimento médico especializado e, muitas vezes, de alto custo,
impactando o sistema de saúde como um todo.
Além disso, há um grave componente social: jovens
e adolescentes vêm sendo cada vez mais expostos a esse tipo de propaganda,
sendo seduzidos por promessas irreais e colocando sua saúde em risco precoce.
A
ilusão do corpo perfeito
O culto ao corpo esculpido, intensificado por
redes sociais e padrões estéticos inalcançáveis, contribui para a banalização
do uso de hormônios. É comum que pessoas que buscam apenas melhorar sua
aparência física, sem nenhuma necessidade médica, recorram a “ciclos” de
hormônios, muitas vezes com orientação de profissionais sem qualificação.
Essa distorção do conceito de saúde, em que
estética se sobrepõe à prevenção e ao equilíbrio, precisa ser amplamente
debatida e combatida com informação, educação em saúde e políticas públicas
eficazes.
É hora de agir com responsabilidade
O uso de hormônios com fins estéticos, sem
indicação médica e sem comprovação de deficiência hormonal, é perigoso, não
ético e coloca vidas em risco.
Não existem atalhos seguros para um corpo
saudável. A verdadeira saúde é construída com hábitos equilibrados, alimentação
adequada, prática regular de atividades físicas e acompanhamento médico
profissional.
É urgente que a sociedade — incluindo
profissionais de saúde, educadores físicos, autoridades reguladoras, mídias e
cidadãos — se una em torno da valorização da saúde integral, da informação
responsável e do combate à medicalização do corpo por vaidade.
Antes de pensar em usar qualquer hormônio,
procure um médico. Sua saúde e sua vida valem mais do que qualquer padrão
estético.
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