Por Paula Felix
Tumor
foi descrito pela primeira vez na medicina em 1992 e atingiu cerca de 20
pacientes; achados de estudo brasileiro podem ajudar no manejo da doença
A
Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) divulgou nesta quarta-feira, 13, os
resultados de um estudo que constatou o primeiro caso no Brasil de um tipo raro
de câncer associado a próteses de silicone nas mamas. O achado contribui para
compreensão de características do tumor e formas de tratar a doença.
A
investigação foi publicada no periódico Annals of Surgical Oncology (ASO), das
sociedades americanas de Cirurgia Oncológica e Cirurgiões de Mama, com base no
caso de uma paciente de 38 anos que tinha a prótese desde os 20 e apresentou um
aumento expressivo em uma das mamas com dor acentuada no local.
A
prótese foi trocada e houve a retirada do tecido que a revestia um tipo de
cápsula que se forma no processo de cicatrização -, pois havia formação de
líquido (conhecido como seroma) ao redor do implante. Como essa cápsula tinha
sinais de anormalidade, foi feita uma biópsia que constatou a presença de
células cancerígenas. Era um caso carcinoma espinocelular associado ao implante
mamário de silicone (BIA-SCC, na sigla em inglês), condição descrita pela
primeira vez na medicina em 1992 e que afetou cerca de 20 mulheres no mundo,
segundo a literatura científica.
"Devido
ao número limitado de ocorrências, os fatores de risco para o desenvolvimento
deste tipo de tumor altamente agressivo, com prognóstico desfavorável, são
desconhecidos", disse, em nota, o mastologista Idam de Oliveira Junior,
sócio-titular da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e coordenador do
estudo.
No
entanto, estudos já investigam condições que podem favorecer o aparecimento da
lesão, como inflamação da cápsula que recobre a prótese de silicone e processos
crônicos de irritação, que podem desencadear alterações nas células que levam
aos tumores. Especialistas avaliam ainda que o acúmulo de líquido ao redor do
implante e uso da prótese por mais de dez anos podem contribuir para os
episódios.
O
desfecho do primeiro caso brasileiro não foi positivo. "Devido à lesão
avançada, houve recidiva de forma precoce e agressiva", relatou o Oliveira
Junior, que também é coordenador do Departamento de Mastologia e Reconstrução
Mamária do Hospital de Amor, em Barretos, no interior paulista. A sobrevida
dela, após o diagnóstico, foi de apenas dez meses.
Importância para o tratamento do câncer
O
estudo demonstrou relevância por propor um aperfeiçoamento no estadiamento
desse tipo de tumor, ou seja, na avaliação do grau de disseminação, taxa de
crescimento, extensão da doença e demais características a partir de critérios
internacionais e também na abordagem cirúrgica, fatores importantes para o
sucesso do tratamento.
Para
isso, os pesquisadores mergulharam na literatura científica sobre o tumor para
compreender o comportamento da doença, que pode se espalhar para órgãos como
pulmão e fígado.
"A
partir de estudos e de conceitos do estadiamento do linfoma associado à prótese
de silicone, desenvolvemos um estadiamento para o carcinoma espinocelular,
também com atenção ao implante mamário, correlacionando a sobrevida das
pacientes", explicou o mastologista.
Mesmo
sendo raro, o conhecimento sobre o carcinoma espinocelular associado a implante
mamário é fundamental para atacar o tumor precocemente, pois esse tipo de
câncer avança de forma agressiva.
Silicone ainda é considerado seguro
Há
evidências crescentes de associação entre as próteses de silicone e quadros que
podem desencadear tumores, como o linfoma anaplásico de grandes células
associado a implantes mamários (BIA-ALCL, na sigla em inglês) e a síndrome
autoinflamatória induzida por adjuvantes (ASIA, na sigla em inglês), mas não é
necessário entrar em pânico.
De
acordo com Oliveira Junior, os implantes de mama são seguros e eficazes
independentemente do fim, estético ou em cirurgias de reconstrução da mama, de
modo que não é necessário um movimento de retirada das próteses. Isso pode ser
feito em casos de alterações, que devem ser avaliadas por profissionais.
"Não há espaço para que o medo influencie na decisão da paciente. Tudo precisa ser amplamente discutido e avaliado com respaldo científico”, finaliza.
Fonte:
Veja Saúde
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