Da Redação
Quando se fala em esgotamento profissional, a
primeira palavra que vem à mente é burnout — um estado de exaustão física,
emocional e mental causado pelo estresse crônico no trabalho. Mas, no outro
extremo do espectro, existe um fenômeno mais silencioso, menos comentado, mas
igualmente prejudicial: o rust out.
O termo, que pode ser traduzido livremente como
“enferrujamento”, descreve a queda gradual da motivação e do engajamento
provocada por tarefas repetitivas, monótonas e pela falta de desafios no
ambiente de trabalho. Se o burnout vem da sobrecarga, o rust out nasce da
subutilização — quando as habilidades do profissional não são aproveitadas e
ele se sente estagnado.
Do
tédio à apatia
O rust out costuma se manifestar em
funcionários entediados, apáticos e desmotivados, que fazem apenas o necessário
para cumprir a jornada. Essa falta de estímulo pode levar à procrastinação, uso
excessivo das redes sociais durante o expediente e busca por fontes externas de
motivação.
À primeira vista, pode parecer um “problema de
luxo” — afinal, quem não gostaria de ter menos pressão no trabalho? Mas, a
longo prazo, essa ausência de desafios mina a satisfação profissional, afeta a
saúde mental e pode até encurtar carreiras promissoras.
Ambientes corporativos que valorizam mais a
eficiência e o cumprimento de metas do que o desenvolvimento humano tendem a
favorecer o rust out. A sensação de ser “apenas mais um” na engrenagem
organizacional é terreno fértil para esse tipo de desengajamento.
O
caso dos formadores de professores
Uma pesquisa conduzida por Sabrina Fitzsimons,
da Dublin City University, e David Smith, da Robert Gordon University,
investigou o rust out entre formadores de professores — profissionais
universitários responsáveis por preparar futuros educadores.
O estudo entrevistou 154 formadores e realizou
conversas aprofundadas com 14 deles. Apesar de a maioria afirmar gostar da
profissão, muitos relataram sinais claros de rust out: pilhas de tarefas
burocráticas afastando-os do que mais amavam fazer — ensinar e orientar.
Um dos entrevistados resumiu a frustração:
> “Cerca de 70% da minha carga de
trabalho agora é quase só administração. É muito deprimente.”
Com múltiplas funções — aulas, supervisão de
estágios, orientação acadêmica e demandas administrativas —, esses
profissionais veem pouco espaço para pesquisa e inovação, que são,
paradoxalmente, cada vez mais valorizadas nas universidades.
Desalinhamento
e zona de conforto
Outro fator que alimenta o rust out é o
desalinhamento entre as aspirações e a rotina. Educadores experientes, com
currículos sólidos em pesquisa e liderança, muitas vezes acabam presos a
tarefas repetitivas e de baixo valor, sem oportunidades de crescimento ou
mudanças que estimulem a criatividade.
Em alguns casos, a estabilidade e a zona de
conforto fazem com que o problema permaneça invisível por anos. Mas a falta de
perspectivas e a sensação de estar “preso” podem corroer lentamente a
motivação.
O
silêncio que favorece a estagnação
Segundo os pesquisadores, o rust out raramente
é discutido no ambiente de trabalho. Falar sobre ele pode ser visto como
reclamar demais ou demonstrar ingratidão por ter um emprego. Esse silêncio,
embora conveniente para manter a rotina e evitar conflitos, prejudica o clima
organizacional no longo prazo, afeta a inovação e pode aumentar a rotatividade
de profissionais.
Rust
out também exige atenção
Assim como o burnout, o rust out deve ser
reconhecido como uma questão de saúde mental e bem-estar no trabalho.
Identificar sinais precoces, criar oportunidades de desenvolvimento,
diversificar as tarefas e valorizar o engajamento são medidas fundamentais para
combatê-lo.
Como alerta um dos participantes do estudo:
> “Estou funcionando, mas não
prosperando.”
E prosperar — mais do que apenas funcionar —
deveria ser a meta de qualquer carreira.
Créditos:
Artigo adaptado de Sabrina Fitzsimons,
professora de Educação e co-diretora do Centro de Pesquisa Colaborativa em
Formação de Professores na Dublin City University (DCU), Irlanda, e David Smith,
professor na Escola de Estudos Sociais Aplicados da Robert Gordon University,
Reino Unido.
Publicado originalmente no site acadêmico [The
Conversation](https://theconversation.com) sob licença Creative Commons.
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