As doenças cardiovasculares continuam sendo a
principal causa de morte no mundo. No Brasil, estima-se que 40% da população
adulta conviva com colesterol alto, muitas vezes sem saber. Para enfrentar esse
cenário, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) divulgou novas diretrizes
no 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, em São Paulo. O documento atualiza
a versão de 2017 e traz mudanças importantes no diagnóstico, no tratamento e
nas metas para manter a saúde do coração.
As novas metas para o colesterol
Uma das alterações mais marcantes é a redução
dos níveis ideais de LDL, o chamado “colesterol ruim”.
Antes:
pessoas de baixo risco cardiovascular deveriam manter o LDL abaixo de 130
mg/dL.
Agora: o
limite caiu para 115 mg/dL.
Em casos
de risco muito alto, a meta continua sendo abaixo de 50 mg/dL.
Já no
recém-criado grupo de “risco extremo”, o alvo é ainda mais severo: menos de 40
mg/dL.
Segundo os especialistas, quanto mais baixos os
níveis de colesterol, menor o risco de infarto e AVC.
O
colesterol “amaldiçoado”: Lp(a)
Outra novidade é a inclusão da Lp(a), ou
lipoproteína (a), chamada pelos médicos de “colesterol amaldiçoado”. Trata-se
de uma partícula semelhante ao LDL, mas cinco vezes mais agressiva às artérias.
Sua presença é determinada pela genética e aumenta significativamente o risco
de eventos cardiovasculares, especialmente em pessoas jovens.
A SBC recomenda que todas as pessoas façam o
exame para medir a Lp(a) pelo menos uma vez na vida. Apesar de ainda não haver
tratamento específico, conhecer os níveis ajuda a definir estratégias mais
rigorosas de controle do colesterol.
Tipos de colesterol e exames
Além do LDL e da Lp(a), os médicos passam a
considerar outros marcadores:
HDL: o
colesterol “bom”, que protege as artérias.
VLDL:
lipoproteína de muito baixa densidade, também ligada a riscos.
Apo-B:
marcador associado ao LDL, importante na avaliação de risco.
Outros exames que podem ser recomendados
incluem a proteína C-reativa, que avalia inflamação, e o escore de cálcio
coronário, capaz de identificar placas nas artérias antes dos sintomas.
O
papel da genética e do estilo de vida
Embora parte dos riscos seja hereditária, como
na hipercolesterolemia familiar ou nos casos de Lp(a) elevada, isso não
significa que a saúde esteja condenada. Estilo de vida saudável segue como
peça-chave:
Dieta
rica em vegetais e fibras.
Menos
frituras, carnes gordas e ultraprocessados.
Prática
regular de exercícios (150 minutos por semana).
Controle
de peso, pressão e glicemia.
Evitar
tabaco e álcool em excesso.
Remédios e novos tratamentos
As estatinas ainda são a base do tratamento,
mas o arsenal médico se expandiu. Hoje, há opções como a ezetimiba, o ácido
bempedoico, os inibidores de PCSK9 (injeções que reduzem drasticamente o
colesterol) e o inclisirana, baseado em RNA de interferência, aplicado a cada
seis meses.
Em casos de risco elevado, os especialistas
defendem não esperar anos para ajustes graduais, mas sim iniciar terapias
combinadas logo de início.
Além disso, medicamentos usados contra
obesidade, como os análogos de GLP-1 (Ozempic e Mounjaro), não reduzem
diretamente o colesterol, mas diminuem o risco cardiovascular em até 20%,
reforçando a proteção das artérias.
Quando começar a se preocupar?
Os médicos recomendam que a dosagem do perfil
lipídico seja feita já na infância, entre 9 e 11 anos, especialmente em
famílias com histórico de doenças cardíacas precoces. Em adultos, o exame deve
ser solicitado regularmente, de acordo com orientação médica.
A mensagem central da nova diretriz é clara: controlar
o colesterol não significa apenas baixar números nos exames, mas prevenir
infartos, AVCs e mortes prematuras.
Em resumo, o colesterol ganhou regras mais rígidas, novos exames e até uma categoria inédita de risco. A boa notícia é que a medicina oferece hoje mais ferramentas para combater esse inimigo silencioso. Mas, como lembram os especialistas, nada substitui a prevenção: alimentação equilibrada, exercícios e acompanhamento médico continuam sendo as maiores armas para proteger o coração.
Esse artigo é baseado em matéria
publicada na revista Veja Saúde
Para ler a matéria original, clique em:
https://saude.abril.com.br/medicina/novas-metas-colesterol-diretriz/
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