A flora vaginal é formada por milhões de
micro-organismos que vivem em equilíbrio para defender a vagina, a vulva e
órgãos como o útero, as trompas e até a bexiga. Esse delicado sistema de
proteção natural impede a proliferação de agentes infecciosos nessas áreas.
A principal arma dessas "tropas"
microscópicas é a acidez: um ambiente vaginal com pH ácido dificulta a
sobrevivência de invasores indesejados. Quem mantém esse meio ácido são os
bacilos de Döderlein - bactérias benéficas que vivem nas paredes vaginais e
transformam a glicose em ácido lático, mantendo o equilíbrio necessário à saúde
íntima.
Esse sistema, no entanto, é sensível a
diversos fatores. Alterações hormonais do ciclo menstrual, uso de antibióticos
ou anticoncepcionais, relações sexuais e até a gravidez podem desestabilizar a
flora vaginal. Em geral, o próprio corpo se encarrega de restaurar esse
equilíbrio. Mas quando há doenças que afetam a imunidade (como lúpus, diabetes
e insuficiência renal) essa autorregulação pode falhar, resultando em um quadro
chamado disbiose.
Quando o desequilíbrio traz
problemas
A disbiose vaginal abre caminho para
sintomas incômodos e, em casos mais graves, pode comprometer a fertilidade e
até provocar aborto. Ardência, coceira e alteração no odor são alguns sinais de
alerta.
Outro sinal importante é a alteração no
padrão da secreção vaginal, que normalmente deve ser clara. Quando há mudanças
na cor, como aspecto acinzentado ou esverdeado, no odor, que pode ficar mais
forte e desagradável, ou na consistência, que pode se tornar bolhosa, isso pode
indicar um corrimento. Nesses casos, é fundamental procurar um médico para
investigar a causa.
Cuidar da flora vaginal é cuidar de um sistema essencial para a saúde feminina. Por isso, conhecer os sinais de desequilíbrio e ter hábitos saudáveis é o caminho para evitar infecções e garantir o bem-estar em todas as fases da vida. A seguir, confira algumas dicas práticas para adotar já.
1. Prefira calcinhas de algodão
A escolha do tipo de roupa íntima
influencia diretamente na ventilação da região genital. Tecidos sintéticos
dificultam a transpiração, criando um ambiente úmido e quente que favorece a
proliferação de micro-organismos. A recomendação é optar por calcinhas 100%
algodão e não apenas com o forro desse material. À noite, dormir sem roupa
íntima também pode ser benéfico para manter a região mais arejada.
2. Não use absorventes diários
Apesar de populares, os absorventes
diários não são recomendados para uso contínuo. Eles abafam a vagina e mantêm a
área em contato constante com secreções, o que desequilibra a flora local e
favorece a ocorrência de corrimentos. Quanto mais se abafa a vagina com esse
tipo de absorvente, maior o risco de proliferação de micro-organismos que
causam corrimento.
O uso desses itens leva a um ciclo
vicioso: quanto mais se usa, maior é a quantidade de secreção e mais se quer
usar. Em períodos de maior liberação de secreção vaginal, a orientação é levar
uma calcinha extra na bolsa e trocá-la ao longo do dia, se necessário.
3. Evite tecidos sintéticos e
roupas apertadas
Peças muito justas e confeccionadas com
tecidos sintéticos ou espessos, como o jeans, dificultam a transpiração da
região genital, criando um ambiente quente e úmido que favorece o crescimento
de micro-organismos. Para preservar a saúde íntima, é recomendado intercalar o
uso de calças com peças mais leves e ventiladas, como saias e vestidos.
4. Limpe-se adequadamente após
evacuar
A forma correta de higienizar a região
íntima após fazer cocô é passando o papel higiênico de frente para trás. Isso
evita que resíduos fecais e bactérias da região anal entrem em contato com a
vagina e causem infecções. Se possível, lave a região depois, para garantir
limpeza adequada. Lenços umedecidos (sem álcool ou perfume) podem ser úteis
fora de casa, promovendo uma limpeza mais completa.
5. Troque absorventes com
frequência
Durante o período menstrual, a troca de
absorventes deve ser feita, no máximo, a cada quatro horas, especialmente
quando se trata de absorventes internos. Isso evita que o ambiente se torne
excessivamente úmido, o que favorece a proliferação de agentes nocivos.
Além disso, o sangue tem um pH diferente
do ambiente vaginal e seu contato prolongado com a mucosa pode causar
irritações. Também é indicado evitar absorventes perfumados, cujas substâncias
químicas podem sensibilizar a região íntima e aumentar o risco de alergias.
6. Prefira sabonetes suaves e
neutros
A higiene íntima deve ser feita com
produtos suaves, sem excesso de perfumes ou corantes. Sabonetes íntimos, apesar
de formulados para essa região, podem ter efeitos diferentes em cada pessoa:
enquanto algumas mulheres se adaptam bem, outras relatam aumento da
sensibilidade. O ideal é observar como seu corpo reage e evitar exageros. Na
dúvida, saiba que menos é mais.
7. Lave corretamente as calcinhas
Os cuidados com a roupa íntima começam
ainda na lavanderia. O ideal é lavar as peças com sabão neutro e evitar o uso
de amaciantes e produtos perfumados, que podem causar alergias ou irritações.
Após a lavagem, o mais indicado é deixar as calcinhas secarem ao sol ou em
local bem ventilado. Finalizar com ferro quente ajuda a eliminar possíveis
micro-organismos.
8. Tenha cuidado ao se depilar
Embora a depilação íntima não represente,
por si só, um risco direto, a retirada total ou excessiva dos pelos pode
enfraquecer uma barreira natural de proteção do corpo. Essa prática facilita a
entrada de micro-organismos que podem causar infecções. Por isso, é essencial
escolher locais de confiança e garantir o uso de materiais descartáveis e
esterilizados.
9. Ducha íntima pode ser
prejudicial
Apesar da ideia de "higiene extra", o uso da ducha íntima pode trazer mais prejuízos do que benefícios. Esse tipo de lavagem altera o pH vaginal e elimina micro-organismos benéficos, essenciais para manter a flora equilibrada. Caso não saiba, a vagina tem mecanismos de autolimpeza. Por isso, a higiene externa, com água e sabonete suave, já é suficiente para manter a saúde da região.
Fontes consultadas: Renata Lamego, ginecologista e obstetra do Einstein Hospital Israelita; Luiz Brito, ginecologista e obstetra, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Este texto foi originalmente publicado na
Agência Einstein
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