Por Cristiane Martins, BBC News Brasil em Londres
Artigo baseado na reportagem originalmente publicada na BBC News Brasil


Os piolhos acompanham a humanidade há milênios. Citados até na Bíblia e encontrados em múmias de quase 2 mil anos, esses pequenos parasitas — especificamente o Pediculus humanus — continuam a ser um problema atual. Ainda hoje, infestam pessoas de todas as idades e classes sociais em todo o mundo. A boa notícia é que os tratamentos modernos são mais seguros e eficazes, embora o combate a esses insetos ainda requeira cuidados específicos e atenção médica.

Uma história longa e cheia de coceira

Ao longo da história, os piolhos foram combatidos com produtos perigosos como pomadas mercuriais e enxofre misturado com banha. Hoje, temos à disposição métodos mais seguros, como cremes e loções com inseticidas específicos, sabonetes próprios e tratamentos caseiros com vinagre. Ainda assim, esses parasitas têm se mostrado cada vez mais resistentes aos produtos tradicionais.

Ciclo de vida e reprodução

Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o ciclo de vida do piolho dura cerca de um mês. Cada fêmea adulta coloca quase 10 ovos por dia — as chamadas lêndeas. De 7 a 10 dias depois, as lêndeas dão origem às ninfas (fase jovem do piolho), que atingem a fase adulta entre 9 e 12 dias, reiniciando o ciclo.

Os piolhos se alimentam do sangue humano, o que provoca coceira, especialmente em regiões como nuca e pescoço. Eles se fixam nos fios de cabelo próximos ao couro cabeludo com uma substância aderente parecida com cola.

Como identificar uma infestação

O principal sintoma é a coceira intensa. Também podem surgir descamações, ínguas atrás das orelhas e pontos brancos nos fios — as lêndeas, que se aderem como pequenos "colares de contas" nos cabelos. Muitas vezes é mais fácil identificar os ovos do que os piolhos vivos.

Tratamentos disponíveis

O tratamento é indicado apenas para pessoas com infestação ativa. Os métodos mais eficazes incluem:

Pente fino: uso diário desde o couro cabeludo para remover piolhos e lêndeas.

Mistura de água com vinagre: em partes iguais, ajuda a amolecer as lêndeas.

Loções e cremes inseticidas: como a permetrina, deltametrina e dimeticona. A aplicação deve durar entre 6 a 8 horas antes da lavagem.

Repetição do tratamento: geralmente é necessário repetir após 7 dias para eliminar ovos que tenham sobrevivido à primeira aplicação.


A dermatologista Fabiane Andrade Mulinari Brenner, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), alerta para os riscos do uso de inseticidas em crianças menores de cinco anos. Nesses casos, podem ser recomendadas formulações menos tóxicas, como as que contêm enxofre.

A Fiocruz reforça que o couro cabeludo das crianças funciona como uma esponja, absorvendo mais rapidamente substâncias químicas — o que pode aumentar os riscos de intoxicação se o tratamento não for bem orientado.

Evitando a reinfecção

Os especialistas alertam que uma única aplicação raramente é suficiente. Como os ovos podem sobreviver, é fundamental repetir o tratamento e inspecionar outras pessoas próximas — como familiares e colegas de escola — para evitar reinfestações.

É recomendado também higienizar objetos pessoais como escovas, pentes e prendedores, mergulhando-os em água quente por 10 minutos.

O que evitar

As médicas consultadas pela BBC News Brasil desaconselham o uso de soluções caseiras perigosas, como tinturas, plantas e produtos para animais, além de medicamentos sem prescrição. Esses métodos podem causar sérios danos à saúde.

Prevenção e mitos

A transmissão do piolho se dá pelo contato direto entre pessoas ou pelo compartilhamento de objetos pessoais, como bonés, travesseiros, fones de ouvido e toalhas. Crianças, por brincarem muito próximas, são as mais afetadas, mas adultos também podem ser contaminados — inclusive em salões de beleza que não seguem práticas adequadas de higiene.

Importante: piolhos não têm relação com higiene pessoal, classe social ou hábitos de vida. A Fiocruz reforça que o preconceito ligado à pediculose é infundado e prejudica o controle adequado da infestação.

Considerações finais

Segundo os especialistas, surtos de piolhos tendem a ocorrer em ciclos de 6 a 8 anos. Por isso, medidas coletivas, como campanhas escolares de prevenção e educação, são fundamentais.

Por fim, o melhor tratamento é sempre aquele indicado por um profissional de saúde. O diagnóstico correto e o acompanhamento adequado garantem não só a eliminação dos piolhos, mas também a prevenção de complicações como infecções no couro cabeludo.


Artigo baseado na reportagem “Quais os melhores tratamentos contra piolhos?”, de Cristiane Martins, publicada pela BBC News Brasil.