Por Taíssa Stivanin, da RFI em Paris
A ceratopigmentação é uma técnica cirúrgica que
consiste em “tatuar” a córnea. O procedimento é indicado para melhorar o
aspecto dos olhos de pacientes que perderam a visão ou sofreram lesões. A
operação ficou mais conhecida no Brasil após a experiência das influenciadoras
brasileiras Andressa Urach e Maya Massafera, que fizeram a operação em junho na
França e postaram fotos e vídeos nas redes sociais.
A mudança de ‘look’ dividiu os internautas,
teve repercussão nacional e preocupou os especialistas. Maya Massafera chegou a
publicar nas redes o vídeo da operação feita em Nice, no sul da França.
O Conselho Brasileiro de Oftalmologia divulgou
um comunicado na época, lembrando que o uso da técnica para fins estéticos não
é recomendado em pacientes com olhos saudáveis e que querem apenas ter olhos
claros, como foi o caso das duas influenciadoras.
“A ceratopigmentação é um procedimento muito
antigo, que já tem sido usado há séculos, que sempre foi usado para finalidades
cosméticas. Existem pacientes que têm opacificação da córnea, então o olho fica
branco, o que demonstra que aquele olho não enxerga. A cirurgia melhora a
autoestima e a aparência”, explica a especialista brasileira Keila Monteiro de
Carvalho, professora titular de Oftalmologia da Unicamp e coordenadora do
Serviço de Estrabismo, Oftalmologia Pediátrica e Visão Subnormal do HC - FCM/Unicamp.
As novas técnicas utilizam tipos de laser, como
o FLAAK (Femto Laser Aesthetic Annular Keratopigmentation), que também são
usados nas cirurgias refrativas. Durante a operação, o laser faz uma abertura
na córnea para introduzir o pigmento, que também pode ser colocado com uma
agulha.
“Esse procedimento, para finalidades
puramente estéticas, pode ter complicações graves, como, por exemplo, uma
reação alérgica, glaucoma ou a uveíte”, alerta a médica.
A uveíte é a inflamação da úvea, a camada média
e vascular do olho, onde fica a íris e outras estruturas oculares. Segundo ela,
foram relatadas muitas sequelas em cirurgias com pacientes que apenas queriam
mudar a cor dos olhos.
Lentes de contato
A operação também pode acarretar dor, ardência,
dificuldade para enxergar, sensação de areia nos olhos, aversão à luz e
lacrimejamento constante. Alguns desses sintomas foram relatados pelas
influenciadoras no pós-operatório.
“Uma das primeiras complicações é a
ocorrência do olho seco. Quando se mexe na córnea, se altera a inervação, o
olho fica seco e há muitas consequências. Além de desagradável, ele é dolorido
e, às vezes, tem outras complicações posteriores, como o edema de córnea. Pode
ser até mesmo necessário realizar implantes”, alerta a especialista.
Esses riscos podem ser evitados utilizando
soluções bem menos invasivas. “Existem outras maneiras. Uma simples lente de
contato colorida já modifica bastante o aspecto estético”, completa.
Mas a oftalmologista lembra também que o
procedimento evoluiu e os pacientes que precisam ser operados se beneficiam de
novas técnicas. “Usado com a finalidade cosmética, ele é muito interessante.
As técnicas novas têm sido bem desenvolvidas”, explica a oftalmologista.
Risco é maior após os 60
Existe também o risco a longo prazo, lembra a
oftalmologista. “A pessoa que faz a cirurgia geralmente é jovem e, na faixa
dos 30 ou 20 anos, não imagina o que vai acontecer aos 60. E, a partir dessa
idade, iniciam-se os problemas de saúde provocados pelo envelhecimento, tanto
no organismo quanto no olho”, explica.
O diabetes, por exemplo, gera retinopatia mesmo
que a doença esteja controlada, além da pressão alta. Outras doenças, como a
pressão alta, também surgem com o envelhecimento.
“Essas patologias exigem que o fundo do olho
seja visualizado de uma maneira muito detalhada, inclusive para o tratamento.
Mas, caso a córnea tenha sido toda tatuada, isso vai dificultar muito a
execução da cirurgia de catarata”, diz.
De acordo com a médica, a aparência também não
fica natural, como se parecesse com um olho de boneca. “Fica uma aparência
pouco natural. A pupila fica muito certinha”, observa.
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